O filho que não tive
Deveria ter uns oito anos e já pensava em ser mãe. Com essa idade comecei a guardar objetos que, de alguma forma, representassem o que eu fui, para mostrar para o meu filho, se um dia tivesse um. O primeiro foi um caderno de escola comum, na época eu deveria estar com dez anos. Guardei também um pequeno diário com capa jeans, escrito só até a metade, fotos e alguns brinquedos como, por exemplo, um urso de pelúcia e minha primeira boneca.
Durante minha adolescência, inúmeras vezes eu agi de forma que meu futuro filho, caso estivesse me vendo, sentisse orgulho de mim. Lia livros e mais livros para formar um conteúdo intelectual interessante para passar para ele. Quando cresci, decidi ser artista, então ficava imaginando meu bebê crescendo em coxias de teatros, sets de filmagens, essas coisas. Ouvia por aí que quando os pais são extrovertidos, geralmente os filhos são retraídos... será? Será que vou ser julgada por ele? Vergonha da mãe? Mãe malucona? Bom, resolvi enfim escrever sobre este filho imaginário que, de alguma forma, terá que nascer de mim.
Este livro é para você, meu filho(a) e para você, mãe que mora em mim.