A pasta no Google Drive - Isabela Cunha
Descrição
A pasta no google drive’ é uma crônica de reencontro. De reencontro com o gênero literário, mas de reencontro também com a reflexão sobre o meu próprio processo de escrita - uma reflexão que eu ainda não havia construído, em que nunca havia tocado de verdade, até esse momento crítico. Essa crônica surgiu a partir de um gatilho disparador, a Oficina de Escrita Afetiva (uma das oficinas e cursos de aperfeiçoamento que fiz durante o período de isolamento social). Depois de muito bloqueio com o tema dos afetos, depois de encontrar muita dificuldade para escrever sobre o que me toca e o que machuca, depois de me perceber completamente dura e fechada, me vi provocada a pensar francamente sobre esse nó, sobre essa produção tão intensa que carrego há mais de dez anos e sobre esse bloqueio criativo, ao mesmo tempo, que foi crescendo até se tornar uma impossibilidade maior: de bancar a minha escolha pela literatura e, em última instância, a minha escolha pelo fazer da cultura. A crônica relata, então, esse processo (que eu hoje percebo como violento) da minha própria produção literária. Mas, embora orbite esse tema, ela na verdade se extrapola e, eu penso, revela toda a relação que tenho com a profissão que escolhi, a de produtora e gestora cultural. Vinda de uma família de funcionários públicos, a maioria de baixa formação escolar, resolvi atuar profissionalmente no campo das artes, e houve sempre essa resistência com o meu trabalho, sempre o fantasma do fracasso e da pobreza pairando esse lugar. De modo inconsciente, eu mesma me coloquei no campo da cultura preocupada com esse fantasma, carregando esse conflito entre o desejo de fazer e o medo de fracassar. A crônica, reinterpretada, demonstra como poucos outros textos meus essa relação partida que tenho com a minha carreira (que já tem 7 anos) como produtora cultural. Não me estranha, então, que ela tenha aparecido justamente em meio à pandemia e ao isolamento social, quando as inseguranças da cultura ficaram ainda mais expostas. Mas ela também é um atestado de sobrevivência, eu creio. Um atestado da minha decisão por permanecer. Ela é um reconhecimento da minha trajetória, disso que "sempre fiz". Ela é uma confissão cansada, mas também orgulhosa, de não ter desistido. Considero importante dizer que escolhi a literatura para me apresentar neste edital por ser essa a linguagem em que eu crio. Mas, mais ainda do que escritora, o que sou da vida é produtora cultural. Com passagem pela produção de festivais e pela programação de espaços de cultura, é esse o campo onde atuo e tenho experiência. E, na literatura, estou apenas engatinhando. Faço parte do coletivo Versa de mulheres escritoras e devo lançar em 2021 o meu primeiro livro, recentemente aprovado pelo edital de Londrina. Também começo, em 2021, o Festival Céu Aberto de Música e Pensamento, festival que dirijo e que também tem financiamento do PROMIC.
Autor
Isabela Cunha