Viemos te buscar, Penélope!
Descrição
O projeto Viemos te buscar, Penélope! é uma cena curta de teatro Cabaré apresentado em vídeo, encenado e idealizado por Patricia Cipriano. O presente trabalho foi gravado com os meios técnicos possíveis durante o período da pandemia e tem duração de 13 minutos e 42 segundos. Os textos são de Ricardo Nolasco, subtraídos da dramaturgia "As Tetas de Tirésias - Vamos Esbofetear Ulisses", e foram cedidos para este projeto. Toda a cena foi pensada a partir da linguagem e estética do Cabaré, objeto de pesquisa da artista há cerca de 5 anos, um gênero teatral que nasceu na França e que embora tenha caráter experimental busca incansavelmente através da sátira, burlas, esquetes cômicas, personagens caricatas, entre outras características, apresentar ao público formas variadas de ver e sentir o nosso tempo. O cabaré é um exercício político, cômico e de transgressão ao que nos oprime. Para esta cena foi abordado como tema o machismo, que opera e limita tanto a vida de homens como de mulheres. A encenação é dividida em três partes. A primeira apresenta a figura caricata de uma mulher que ousa confrontar o marido em nome de sua autonomia. Na segunda, a personagem questiona as ferramentas que lhe são permitidas para vivenciar sua emancipação. Porém, o que conhecemos como senso comum do conceito de independência e felicidade que envolvem aspectos sociais, políticos e afetivos da vida de uma mulher, também a aprisiona, sobrecarrega e mantém vivo um sistema patriarcal. Por fim a terceira parte, representada por uma mulher histriônica, grotesca e também pitoresca que questiona o seu estar no mundo e que empreende no caminho da não submissão, ou seja, carrega consigo os estigmas da louca, solitária e perigosa. Aqui ela convoca Penélope, personagem da Odisséia de Homero, a reescrever uma outra história em que o matrimônio e/ou a dependência ao homem não sejam os únicos caminhos possíveis. Viemos te buscar, Penélope! é uma homenagem às soldadeiras e cangaceiras, que abandonaram seus lares para lutar na revolução, seja nas frentes de batalha comandando tropas, seja na luta solitária por sobrevivência. Para as mulheres da luta que acompanharam seus maridos durante a guerra, que para justificar a ida de suas esposas para os campos de batalhas, determinaram a elas os serviços de lavadeiras, cozinheiras, cuidadoras e donas de pequenos comércios. É para as mulheres de hoje que vislumbram e buscam dia a dia por realidades mais equânimes entre mulheres e homens. Para homens que não se bastam no conceito engessado e perigoso do estereótipo de masculinidade. É para todas as mulheres que se entendem - e que ainda irão se entender - gestoras de suas próprias vidas assim como minha mãe, uma lavadeira que carregava trouxa de roupa na cabeça.
Autor
Patricia Cipriano