Um dia qualquer nas ruas de Curitiba
Descrição
"Um dia qualquer nas ruas de Curitiba" é um vídeo-dança-manifesto-celebração. É afirmar o direito e a importância da presença de corpos dissidentes no ambiente da negociação coletiva da existência: as ruas. Princesa Ricardo Marinelli é o que sou, mas também é um manifesto ético-político ficcional que proponho para o mundo como um sonho, como a projeção de um futuro vivido agora.
Sabemos, da vida cotidiana e também do fazer artístico, que o contexto atual tem revelado cada vez mais elaboradas e violentas estratégias para exterminar determinados discursos artísticos e determinados corpos, especialmente da vivência das ruas. Há, de fato, uma violência de morte que paira nossas atividades e nossas vidas como artistas e corpos dissidentes. Seja por ações de apagamento, seja em ações de hipervisibilidade, temos sido abertamente atacadas. Com compartilhamentos de discursos falaciosos e criminosos no facebook, mas também com pedradas na rua.
Das coreopolíticas propostas por André Lepecki, às zonas autônomas temporárias provocadas por Hackim Bey, passando pelo manifesto ciborgue de Donna Haraway ou pela contrassexualidade proposta por Paul Preciado: onde, como e por quais motivos resistimos? Respondemos? Contra-atacamos?
Olhando para o espaço público como lócus da negociação coletiva, do estar/conviver juntos, na ação UM DIA QUALQUER NAS RUAS DE CURITIBA se vê uma ação imediata, pontual, reconhecível e acessível a um público não programado previamente. O corpo em ação ressignificando um espaço-tempo real, despertando a atenção para ele e oferecendo outras formas de observá-lo e de perceber o contexto a sua volta, mais críticas e criativas, ficcionalizando, transitando no limiar entre o estabelecido e o provisório, entre a institucionalização e o espaço público, entre a repetição e a diferença.
Vivemos, no Brasil atual, um contexto político-social cruel e quase novelístico que exige de nós cada vez mais uma qualidade resiliente. Todos os dias precisamos renovar nossa capacidade de manter viva nossa indignação e transformá-la, de alguma forma, em ação com potencial de transformação, ainda que soterrados em condições cada vez mais precárias.
Mas nós, as estanhas, cada vez mais numerosas, somos uma multidão de desejos, que não se barra tão facilmente. Ainda que eu precise todos dias reconhecer a violência e a solidão, eu também reconheço que sou maravilhosa. Por mim, por nós.
Nessas horas me abraço com o maravilhoso Caio Fernando Abreu: "E tem o seguinte, meus senhores: não vamos enlouquecer, nem nos matar, nem desistir. Pelo contrário: vamos ficar ótimos e incomodar bastante ainda." Cada vez que eu caio diante de um ignorante, toda vez que me tranco no quarto de medo, ou choro minutos a fio no chuveiro, o corro na rua de medo. A cada uma das vezes que passo por uma merda dessa, saio uma princesa ainda mais exuberante. A gente troca o modelito, retoca a maquiagem e começa tudo denovo, para mais "um dia qualquer nas ruas de Curitiba".
Autor
Ricardo Marinelli Martins