Tardança
Descrição
O projeto "Tardança" apresenta-se como um vídeopoema autoral e caseiro. Nele, tem-se a leitura de fragmentos de poemas dos autores Aberto Caeiro e Álvaro de Campos, ambos heterônimos do escritor português Fernando Pessoa, combinada com imagens introspectivas do cotidiano de uma casa e seus arredores durante o ano de 2020, no contexto de exílio diante da pandemia mundial. Outrossim, as imagens de "Tardança" foram captadas através de um celular, numa tarde de domingo, e editadas em um notebook, respeitando-se, assim, o isolamento social. Nesse sentido, a palavra "tardança" significa, de acordo com o Dicionário Priberam de Língua Portuguesa (entre outros, com significados semelhantes): "ato ou efeito de demorar ou demorar-se; demora; detença". À vista disso, o título da obra espelha a temática dos poemas declamados, juntamente com as imagens gravadas e a realidade atual em que vivemos na cidade de Curitiba, no Brasil e no mundo: rotinas vivenciadas a partir do adiamento dos planos e da dilatação do tempo. A preferência pelos poetas Alberto Caeiro e Álvaro de Campos se deu não só por serem heterônimos de Fernando Pessoa, o mais universal poeta português, mas também pela urgência de suas leituras nos últimos meses, visto que seus poemas refletem sobre a existência, as sensações, a não racionalização e o cansaço da modernidade. O roteiro foi criado a partir das obras: "O Guardador de Rebanhos", "Poemas Inconjuntos" e "Poemas de Álvaro de Campos". Os poemas estão disponíveis no site: http://www.dominiopublico.gov.br/. Destarte, Alberto Caeiro é caracterizado como um poeta ligado à natureza, e sua escrita é permeada pelo verso livre, de linguagem simples e familiar - dessa maneira, os versos se equiparam com as imagens captadas: a casa de bairro, o quintal íntimo, os cachorros vira-latas e os moradores que soam ancestrais. Assim como Alberto Caeiro, meus pais, retratados no videopoema, também tiveram apenas instrução primária; e agora, idosos, vivem esses tempos a tardar seus dias, aproveitando as brechas de sol e o chimarrão habitual. Já Álvaro de Campos, tido pela crítica literária como verdadeiro alter ego de Fernando Pessoa, começou a escrever poemas intimistas, onde descreve um constante desassossego metafísico diante da vida, depois de uma série de desilusões. É justamente desse modo que a obra de Fernando Pessoa, o poeta do isolamento (em um sentido bastante peculiar, isto é, o de ensimesmar-se), que completou em junho 132 anos, canta aos nossos ouvidos cansados de agora: nós, que agora estamos isolados, nos perguntamos "o que é o tempo?". Ora, a literatura é companheira de todos os momentos, e ainda mais desses tão incertos. Assim, a partir desse vídeopoema pretende-se incentivar a leitura de poesia, bem como despertar o interesse pela obra e vida do poeta, para que mais pessoas se conectem através da arte e da literatura.