Rota do Momo

Descrição

Em 2016, o artista Ricardo Nolasco realizou, a convite da Curitiba Mostra, o espetáculo Momo: Para Gilda Com Ardor, uma declaração de sua morte para teatro, ou ao menos de um teatro que o estava matando, para que uma outra arte pudesse sobreviver. Um ritual cênico onde refez sua trajetória descobrindo a arte que lhe interessava fazer ao levar consigo todos os artistas (vivos e mortos) com quem já havia trabalhado e aqueles que havia pesquisado, e também colocar em xeque paradigmas representacionais: ''não me interessa a pretensão de viver a vida do outro''. Para isso utilizou a cidade em que vive, Curitiba, como pano de fundo para um rito cênico atravessado por três entidades: Antonin Artaud - ao apresentar a morte do teatro na figura autobiográfica de Momo (deusa greco romana da arte e da loucura); Gilda - mendiga, travesti barbada que roubava beijos dos passantes na Rua XV dos anos 70; e sua própria biografia.  Acreditamos que foi possível recontar um pouco da história dessa cidade dando voz a outras perspectivas e assim oferecer um último bloco de carnaval para Gilda, que se torna Rei Rainha Momo nesse espetáculo. 

Através de Artaud se pode olhar para a arte como um espaço para tocar a vida e propor novas possibilidades para o mundo. Gilda permite abrir uma porta de conexão com as dissidências, principalmente com pessoas em situação de rua que já fazem parte desse processo por encontrarem nos eventos que temos organizado um espaço de diálogo. Momo que é o rei rainha do carnaval permite através de uma figura bufa reflexões sobre o poder, um rei que perde a coroa no fim do carnaval. Um reinado provisório. 
Depois da estreia, realizamos apresentações em diferentes cidades do Brasil e do México e percebemos que não era uma peça somente sobre Curitiba, mas uma outra cidade mítica presa em meio a névoa, túneis, encanamentos e fiações que poderia se tornar real quando evocada.

Durante esse processo, Nolasco - o Momo- marcou 78 encontros com Gilda pelas ruas de Curitiba, na busca por re-mapear a cidade e criar uma nova cartografia para essa figura presente no imaginário da cidade. Essas ações foram registradas por diversos artistas em vários formatos. Durante esse período de quarentena  em que qualquer possibilidade de continuidade das nossas investigações artísticas baseadas na presença  se tornaram tão incertas realizamos lives e performances para plataformas virtuais e assim voltamos a olhar para esses materiais, nos quais reconhecemos  grande potência de se pensar a própria história de Curitiba. Não sua história oficial, mas como uma forma de oficializar tantas histórias esquecidas e revividas por um processo artístico intenso e particular. O vídeo que apresentamos aqui reúne materiais que acompanharam todos os anos desse processo. Acreditamos com essa videoarte compreender uma ação importante em relação a memória da cidade, assim como reconhecer esse processo de arte e vida como formato possível para repensar a nossa história.

Autor

Renata Cunali

Artistas

Ricardo Nolasco

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