Perséfone EM Hades
Descrição
Perséfone em Hades é uma jornada narrada em poemas que "acontecem" sozinhos, mas encadeados constroem uma trama. É sobre a natureza cíclica da mulher e o aspecto feminino da alma, relacionado aos processos criativos.
É uma viagem interior sobre o desvanecimento dos encantos da seguridade da zona de conforto. Arrebatada, como Cora no mito, a jovem entra no reino das sombras, atrás do ideal de amor, mais perfeito do que o real. "Apolo é lá fora um astro brando, mas sobre mim funérea pira", diz ela no prólogo. No inferno ela lembra-se de quem é de fato, lembra-se de sua genitora, que neste caso não é Deméter, é a Musa, a Poesia.
O ideal de amor a conduz pelo inferno através dos rios. Aqueronte é o rio da tristeza e da tomada de consciência de sua natureza cíclica, que clama por um retorno ao eu mais profundo e suas verdades essenciais. No rio Estige ela rememora os votos inquebráveis ali feitos, à musa e ao seu ideal. É onde vemos sua lealdade às duas forças que a arremessam entre luz e sombra, sem piedade. E ela sucumbe ao próximo rio: o Cócito. É neste rio gelado que afunda junto com Ofélia, estandarte da mulher reprovada e rejeitada, sempre a se afogar na própria agonia.
Esta Perséfone, porém, recusa afogamento e vacilante alcança a margem. Sentindo-se abandonada, Perséfone busca amparo no sonho e se lembra de Nix, a noite, divindade primordial que pode destruir até os deuses. Mas o sonho é outro engano e ela chega ao Flegetonte, o rio de fogo onde Medéia queima em ódio: "Somos uma, somos todas e sozinhas no incêndio violento que é a sugestão da loucura,". É onde ela acede à própria sombra e concebe monstruosidades, que serão esquecidas no rio Lete. Só que o esquecimento é temporário. Depois dele vem outro ciclo de "luz do mundo" e a repetição inconsciente.
Perséfone quer ter a consciência de seus ciclos, ou o esquecimento eterno. É quando uma 3° opção é precipitada por Macária, a boa morte, e uma de suas criações em algum dos ciclos esquecidos, que cria condições pra que ela atravesse o Lete sem esquecer totalmente quem é. Já no Campo de Asfódelos ela pede ajuda à Nixa para alcançar os Campos Elíseos.E ao fazê-lo percebe que pode reescrever seu destino, pois seu "verso é passagem", "tíquete para toda dimensão que possa ser ancorada nos meandros da percepção.". Afinal, a Musa nunca a abandona! E tudo pode ser com ajuda de Nix e da Musa, mesmo que o amor seja só uma "fantasia a proteger a identidade".
Autor
Iriene Borges