O Catraz I e II - Daniel Vargas

Descrição

O Catraz I e II − Engenhocas para dois violões e para viola solo, são baseadas no conto "O Recado do Morro" de Guimarães Rosa. As obras fazem referência ao personagem Catraz, que era uma espécie de cientista do sertão. A ideia central das obras é a de experimentar sons e técnicas estendidas que tentam "trans-gredir" a medida dos instrumentos acústicos. As obras foram escritas na cidade de Curitiba e foram premiadas duas vezes pela FUNARTE, no Prêmio Nacional de Composição Clássica, 2012 e 2014 e tiveram suas respectivas estreias mundiais nas Bienais de Música Contemporânea do Rio de Janeiro, em 2013 e em 2015. Neste vídeo as obras são apresentadas por músicos que atuam na pesquisa e performance da música de concerto contemporânea, dentre eles os violonistas Eric Moreira e Daniel Vargas e também o violista Martinêz Nunes.

Na narrativa, Guimarães Rosa descreve a personagem da seguinte maneira:

"Desde isso, porém, veio chegando, saco bem mal-cheio às costas e roupinha brim amarelo de paletó e calça, um camarada muito comprido, magrelo, com cara de sandeu-custoso mesmo se acertar alguma idéia de donde, que calcanhar-do-Judas, um sujeito sambanga assim pudesse ter sido produzido. O pateló era tão grande que não acabava, abotoados tantos botões, mas a calça chegava só, estritinha, pela meia canela. Os pés também alpercatas floreadas, de sola do sertão. Ao que, com tudo isso, defeitos, é, das pernas ao pescoço, se alceava em três curvas, como devia de ser uma cobra em pé. Viu um banco vazio, e confiou o corpo as nádegas. Não cumprimentara ninguém. Mas todo se ria, fechava nunca a boca. É o Catraz (...........). Esse Catraz - um sujeito que nunca viu bonde...- mas imaginava muitas invenções, e movia tábuas a serrote e martelo, para coisas de engenhosa fábrica.-‘O automóvel, hem, Catraz?’-‘Uxe, me falta é uma tinta p’ra mor de pintar...Mais, por oras, ele só anda na descida, na subida e no plaino ainda não é capaz de se rodar...’-‘E o carróço que avôa, sê Ziquia?’-‘Vai ver, um dia, inda apronto...’ Era para ele se sentar nesse, na boléia: carecia de pegar duas dúzias de urubús, prendia as juntas deles adiente; então, levantava um pedaço de carniça, na ponta duma vara desgraçada de comprida: os urubus voavam sempre atrás, em tal guisa, o trem subia viajando no ar..." (Guimarães Rosa, 1908-1967. O recado do Morro).

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