Descrição

"Por mais que seja grande a facilidade que tem para expandirem-se e passar elasticamente de uma forma a outra, esses grandes macacos filamentosos querem outra maior, mais rápida, desde que seja por pouco tempo e sintam-se seguros de que poderão voltar ao estado original. É por isso que esses Meidosems vão alegres ou fascinados a lugares onde se lhes promete grande extensão, para viver mais intensamente e de lá partem excitados para outros lugares em que se oferecem semelhantes promessas." "Expande a superfície do seu corpo para se redescobrir. Abandona sua própria presença para se reencontrar. Cobre com a camisa alguns vazios para, antes de outro vazio, fingir-se em breve pose de plenitude." (Meidosems, Henri Michaux) O vídeo-performance MEIDOSEM faz parte de uma série intitulada Excri[a]tura. Este vídeo-performance MEIDOSEM tem como dispositivo os textos do livro "Meidosems", de Henri Michaux (traduzido por Ricardo Corona e inédito). Os Meidosems são criaturas imaginárias que tem como lugar um corpo mutável. A partir deste corpo, o vídeo-performance MEIDOSEM coloca o rosto da artista, um rosto manipulado por outro, feito uma marionete, propondo incitar o observador a olhar para esse corpo frágil e tão sujeito a mudanças internas e externas. Segundo Jean-Luc Nancy, o corpo-lugar não é nem cheio nem vazio, não tem fora nem dentro, e, tampouco, partes ou totalidade, funções ou finalidades. Ex-istência: os corpos são o existir, o ato mesmo da ex-istência, o ser sendo. A série Excri[a]tura traduz em videos-performances seres imagináveis da literatura que ganham ex-istência, que não são corpos cheios, plenos, criaturas estáveis, mas que ainda devem e podem ser vistos como simulacros. A partir das linguagens performance, vídeo e som, o texto se faz presença por sua poesia. Poesia no espaço propriamente espaçoso, nas palavras de Nancy. A escrita como impulso para outra ex-istência, outro lugar e espaço amplo, onde o imaginário (literário) se faz por meio de outra escritura e sentido. Esse rosto sendo manipulado remete a como somos vistos e não a como nos vemos, dando à performance o envolvimento com o corpóreo "criatural" dos Meidosems de Michaux, ali visto como uma ex-criatura, que se faz presente apenas na realidade fílmica. Na trilha do vídeo o texto original se faz presente, separando as vogais das consoantes e fazendo uso somente da sonoridade das consoantes com as acentuações, pontuações e espaçamentos originais de cada texto. Uma partitura de consoantes que compõe a trilha sonora do vídeo. Um poema sonoro que sugere ex-istência ao personagem em seu lugar de poesia.

Autor

Eliana Borges