Descrição

DESCAMINHAR é o título deste vídeo-poesia e também um dos poemas que deram origem a este trabalho. Esta obra surge do encontro da cidade com a poesia, trazendo a perspectiva da poeta e atriz Amanda Leal e do diretor e também ator Eduardo Ramos, artistas observadores e ao mesmo tempo sujeitos ativos que modificam a cidade e se afetam por ela. A partir do olhar destes artistas em pontos históricos e emblemáticos da cidade, nasce este registro permeado de poesia. unindo a literatura e o audiovisual. Somos influenciados pelo que nos rodeia física e socialmente, por isso, a cidade também nos atravessa quando caminhamos, é uma relação mútua que deixa marcas nos corpos e na própria arquitetura, criando cartografias e corpografias vivas. Segundo o artigo "Corpografias urbanas: relações entre o corpo e a cidade", das autoras Paola Berenstein Jacques e Fabiana Dultra Britto: "A cidade é lida pelo corpo como conjunto de condições interativas e o corpo expressa a síntese dessa interação descrevendo em sua corporalidade, o que passamos a chamar de corpografia urbana. A corpografia seria um tipo de cartografia realizada pelo e no corpo, ou seja, a memória urbana inscrita no corpo, o registro de sua experiência da cidade, uma espécie de grafia urbana, da própria cidade vivida, que configura o corpo de quem a experimenta." Após meses de quarentena, em uma pandemia que ainda não findou, o movimento nas ruas aumentou. Trabalhadores, famílias, pessoas que fazem e vivem a cidade, entre suas ruas, linhas de concreto e ruídos de máquinas, fazendo da cidade um organismo vivo. As relações mudaram com o distanciamento social: além dos cuidados sanitários, menos toques, abraços, encontros presenciais e menos saídas à rua. Mas aos poucos a cidade segue a tendência do resto do país, reestabelecendo o grande fluxo que se move por Curitiba. Há certa ruptura causada pela vivência deste período, que provoca reflexões e mudanças, individual e coletivamente. Algo chamado de "novo normal", que abriga e catapulta a normalidade anterior, escancarando fragilidades e latências. Parece não haver paz ou equilíbrio na normalidade, nada além de um frenético vai-e-vem, que delimita e reduz a sensibilidade da experiência humana. Quando alargar o olhar e exercitar a presentificação se tornam raridade e quase impossibilidade, questionar os modos de ser, estar e relacionar é um ato revolucionário. DESCAMINHAR emerge com o intuito de experienciar a cidade e suas subjetividades, após tanto tempo em casa. Permitir-se mudar os ângulos para olhar de novo, ressignificando as relações e a própria paisagem urbana. Para promover sensações e provocar o olhar do espectador, foram utilizados recursos de edição, para potencializar a linguagem e transmissão da poesia. DESCAMINHAR faz um convite para o espectador ampliar a percepção nos trajetos diários, a se demorar, respirar fundo, mesmo com uma máscara, para mergulhar na poesia e nos micromovimentos que pulsam e reverberam em nossas (re)existências.

Autor

Poeta e atriz Amanda Leal e do diretor e também ator Eduardo Ramos

Local de apresentação

Curitiba