Aleph - poema
Descrição
"Aleph" é um poema de meu livro 'Cosmogonias', lançado em 2018 pela Kotter Editorial, uma jovem editora paranaense que tem dado destaque a autores locais. É o 13º poema de um volume com 75. O livro, meu segundo de poesia, tem orelha de Marcelo Sandmann, apresentação de Jaques Brand e posfácio de Sandra Stroparo. "Aleph" é um poema (em versos livres, geralmente curtos, sem rimas, salvo uma ou outra ocasional) que tematiza a (im)possibilidade da originalidade da palavra poética. Seu título vem da primeira letra do alfabeto hebraico (letra esta de grande significação para a Cabala) e neste aspecto também faz eco ao famoso conto de Jorge Luís Borges (1899-1986), "El aleph". Sua primeira estrofe já sintetiza a tensão entre a originalidade ideada e o dialogismo inerente a todo discurso (toda fala é uma resposta a uma fala anterior, todo enunciado ecoa outros enunciados, como pretende Bakhtin): "Quisera / a palavra inaugural do paraíso / mas minha voz / – já sem fôlego – / está cheia de ecos / e cacófatos." Entre um ponto e outro, o desejo de "poieisis" (em grego "criação, construção, fabricação") e a inevitabilidade do eco (o reboar das "vozes todas / desde Adão"), é que se produz e reproduz a poesia, e por extensão todo discurso literário. No entanto, o peso recai sempre no segundo polo, o dos "ecos", já que não é mais possível a palavra inaugural quando o paraíso é perdido. Essa gravitação em torno do diálogo infinito da palavra humana não a torna necessariamente mais clara e transparente. O sujeito poético termina com a constatação de que, quanto à voz do poeta, "não há ninguém / que a decifre." Ou seja, ainda que um eco que ecoa outros ecos, uma fala numa cadeia sem fim de falas, a palavra poética, por ser expressão única, não deixa de ser opaca. Enfim, a palavra poética é indecifrável -- esta é a nossa sina, tematizada nesse metapoema. Aqui, neste vídeo, com narração em off feita por mim mesmo, há uma intenção de acentuar essa solidão do poeta -- e, por extensão, de todo ser humano -- em meio a imagens que denotam a solidão cósmica onde reboam todas essas vozes.
Autor
Otto Leopoldo Winck
Data
2018



