Levo tudo comigo: inquietação, sombra e voz de mulher

Descrição

Levo tudo comigo: inquietação, sombra e voz de mulher

O projeto traz a narração de uma crônica autobiográfica da artista visual e escritora Marília Diaz (Curitiba, 1955 - ). A leitura dramática leva a um percurso por sensações com as quais todos, em alguma medida, nos identificamos. A narradora expõe aspectos prosaicos do seu cotidiano, reflexões filosóficas e angústias, transformando assim a vivência ordinária da pandemia em experiência extraordinária, estética. A rotina de uma mulher comum sob o olhar da escritora, somadas à força da sua voz faz com que enxerguemos que a poesia é mais necessária do que nunca.

A opção pela forma da leitura dramática é uma ferramenta que permite que as ideias se espalhem e que, numa era de tamanha visualidade, sejamos pegos pela vivacidade e pela pulsão de vida da voz de Marília Diaz. A escuta conduz a uma expansão da consciência e abertura da percepção sobre a realidade. Ela permite que criemos novas imagens e associações diferentes daquelas com as quais estamos habituados. Apesar da densidade do tema, a obra traz um respiro lírico, pois permite ver alguma beleza e quiçá um pouco de sentido nestes tempos sombrios.

Esta produção cultural tem como característica a convergência de histórias, impressões e modos de sentir e com isso instaura um desequilíbrio, pois em vez de deixar no lugar do esquecido, propõe imiscuir-se no vivido e nas representações do isolamento, da peste.

No que tange aos ouvintes, a intenção do projeto é trazer a compreensão para além do olhar ordinário do mundo comum e assim, dar a ver a arqueologia, os ícones, as histórias, os detalhes que permanecem encarnados nos fazeres, na passagem do tempo e que se apresentam como cunhagens e melancolia. Dar a ver no campo da arte os sentidos ressignificados, o que muitas vezes passa despercebido, oculto ao espectador, ao ouvinte viciado no cotidiano e no olhar ordinário da negação do momento. Tal como Ranciére, o que se propõe é partilhar o sensível com o outro em relação dialógica, ativa na apropriação dos sentidos aludidos: escuta e representação imagética. O público não absorve ou simplesmente assimila o texto, mas também se expõe, como um espec-ator, participa dinamicamente na construção do pensamento e da ação pela identificação, pois vive ou viveu algo análogo. Assim, a percepção e os conhecimentos gerados, quando transmutados, alquimizados passam a pertencer ao outro, ao humano.  

O olhar da artista somado ao do ouvinte - leitor -  espectador configura um novo horizonte. Refletir sobre as questões da palavra, dos resíduos, da disposição sombria e do que tange a cada um na pandemia trará consequências involuntárias. Proposição cultural ancorada.

Autor

Marilia de Oliveira Garcia Diaz

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